ESTAÇÃO DAS CHUVAS E O OUTONO EM VRINDAVANA



Os vaqueiros mais velhos e suas esposas ficaram pasmados ao ouvirem a narração das proesas de Krsna e Balarama na floresta, então concluíram que eles deviam ser grandes semideuses que haviam aparecido em Vrindvana. Começou então a estação das chuvas, dando vida e sustento a todos os seres vivos. O céu ficou encoberto por densas nuvens azuis; retumbava com trovões, e relâmpagos reluziam no horizonte.


Dessa maneira, o céu e sua iluminação natural ficaram obscurecidos. Com seus raios, o Sol secara bebera durante oito meses a riqueza da terra sob a forma de água. Agora que havia chegado o momento apropriado, o Sol começou a liberar esta riqueza acumulada. Reluzindo com relâmpagos, grandes nuvens eram agitadas e varridas por ventos ferozes. A terra, que ficara emaciada devido ao calor do verão, voltou a nutrir-se completamente quando umedecida pelo deus da chuva. No crepúsculo vespertino durante a estação das chuvas, a escuridão permitia que os vagalumes brilhassem mas não as estrelas. As rãs, que tinham permanecido em silêncio o tempo todo, de repente começaram a coaxar ao ouvirem o ribombar das nuvens de chuva.



Com a chegada da estação das chuvas, os regatos insignificantes, que se haviam secado, começaram a avolumar-se e então desviaram de seus cursos próprios. A grama recém-crescida tornou a terra verde-esmeralda, os insetos indragopa acrescentaram um tom avermelhado, e cogumelos brancos para dar mais cor e círculos de sombra. Desse modo a terra parecia alguém que de repente se tornou rico. Com a riqueza sob a forma de cereais, os campos davam alegria aos fazendeiros, mas provocavam remorso nos corações daqueles que são muito orgulhosos para se dedicar à agricultura e que não conseguem entender que tudo está sob o controle do Supremo.


À medida que todas as criaturas aquáticas e terrestres tiravam proveito da água da chuva recém-caída, suas formas tornaram-se atraentes e agradáveis. Onde os rios se encontravam com o oceano, este ficava agitado com suas ondas açoitadas pelo vento. Durante a estação chuvosa as estradas, por não serem limpas, ficaram cobertas pela relva e detritos e por isso era difícil indentificá-las.


Quando o arco curvado de Indra, o arco-íris, apareceu no céu, que tinha a qualidade de som do trovão, ele era distindo dos arcos comuns, porque não repousava numa corda. Durante a estação da chuva a Lua foi impedida de aparecer diretamente devido à cobertura das nuvens, as quais eram iluminadas pelos raios da Lua. Os pavões festejaram e bradaram uma alegre saudação quando viram as nuvens chegando.


As árvores que haviam secado, depois de receber a água através de suas raízes, suas muitas folhas, flores e frutos apareceram. Os grous continuaram a habitar as margens dos lagos, mesmo com as margens agitadas durante a queda das chuvas. Quando Indra enviou suas chuvas, as águas da enchente romperam os diques de irrigação nos campos agrícolas. As nuvens, impelidas pelos ventos, derramaram sua água nectárea para o benefício de todos os seres vivos. Todas as flores de Lótus desabrocharam alegremente, exceto o kumut que floresce à noite.


Quando a floresta de Vrindavana ficava então resplandescente, cheia de tâmaras e jambos maduros, o Senhor Krsna, rodeado de suas vacas e amigos vaqueirinhos e acompanhado por Sri Balarama, entrava na floresta para se divertir. As vacas tinham de se mover devagar por causa de suas tetas pesadas de tanto leite, mas tão logo Krsna as chamava, elas corriam em sua direção. O Senhor observava as alegres meninas aborígenes da floresta, as árvores que gotejavam seiva doce e as cascatas das montanhas, cujo ressoar indicava haver cavernas nas redondezas.



Quando chovia, o Senhor Krsna às vezes entrava numa caverna ou na cavidade de uma árvore para brincar e comer raízes e frutas. Krsna fazia suas refeições de arroz cozido e iogurte, enviado de casa, em companhia do Senhor Sarikarsana (Balarama) e dos vaqueirinhos que costumavam comer com ele. Todos se sentaram sobre uma grande pedra perto da água. Krsna observava os touros, bezerros e vacas contentes deitados na relva verde a ruminar de olhos fechados e via que as vacas estavam cansadas por causa do fardo pesado do leite que carregavam em suas tetas.


Enquanto contemplava a beleza e opulência da estação chuvosa de Vrindavana, uma fonte perene de grande felicidade, o Senhor oferecia todo o respeito àquela estação, que se expandira de sua própria potência interna. O outono desanuviou o céu, deixou os animais saírem de seus currais apinhados, limpou a terra de sua cobertura lamacenta e purificou a contaminação da água. A Lua do outono aliviou todas as criaturas do sofrimento causado pelo excessivo calor dos raios de Sol. Pela influência do outono, todas as vacas, corças, mulheres e aves fêmeas ficaram férteis e eram seguidas por seus respectivos companheiros.




Com esse clima assim tão auspicioso da natureza, o Senhor Krsna, seu irmão Balarama e seus amigos vaqueirinhos cresciam alegremente e assim, o senhor desfrutava de seus passatempos de menino em Vrindavana.